sábado, 12 de novembro de 2011



Ele Não Virou Purpurina!

Quando o conhecemos, estava já com o prazo de validade vencido para ‘trabalhar’ na avenida. Deteriorado. Pobre. Cansado.   O dinheiro para o sustento, não vinha mais da prostituição, mas de “aviões” que fazia em troca da sobrevivência cada vez mais difícil. O ‘glamour’ ficou do lado de fora de sua dor. A fantasia não o viu despido expondo a cicatriz horrenda e com queloide, ainda que, além da cicatriz na alma. Tinha o olhar perdido e de uma tristeza sem fim.
Largado e rejeitado pelos religiosos, Deus não desistia dele! Com muitas falhas de dentes, o sorriso era contido, tímido, envergonhado.  Procurava alento para seu vazio sem facilitar que a porta de seu coração fosse aberta para aquele que preenche todos os espaços.
Desistiu de sonhar. Entregou-se de vez. Mas conheceu a verdade. A pneumonia talvez tenha sido mais uma oportunidade do Pai para que ele pudesse recostar a cabeça e partir num leito de hospital, com um mínimo de dignidade. Podendo refletir, quem sabe teve tempo de tirar todas as trancas, trincos e chaves de seu coração? Pode ser que tenha permitido o acesso e se deixou tratar com água viva que corre do trono da graça, ou com o bálsamo que cura, trata, acalma a respiração,  relaxando os músculos tensos de tanto viver no escuro.
Agora é tão somente crer nas surpresas que nos reserva o céu. Quantos fariseus condenados e quantos condenados salvos! Oh Glória!!!!  
Certezas? Não temos não! Mas
Se “Deus amou o mundo de tal maneira, que deu o seu Filho Único para que todo aquele que nele crer não morra, mas tenha a vida eterna”, Ele, o Pai de amor, bondade e misericórdia, tenha ouvido de seu trono um sussurro deste filhinho:
“Perdão. Por favor,  Apague. Escreve meu nome no livro da vida. AMÉM.”
Nesta data, um travesti faleceu sem glamour. Sem virar purpurina. Miseravelmente só.
Como ‘família’ que acredita que, no último minuto de razão, choramos gratos pela infinita misericórdia de Deus!

Maria Grizante.