"Os miseráveis não tem outro remédio a não ser a esperança."
Willian Shakespeare.
Além de comentários, a Torcida do Contra Futebol Clube ganhava força, até com palavra de ordem: "Não vai dar certo (apitos)! Café da manhã na garagem para 'travestis'? Coisa de maluco! E cada vez mais crescia em profusão críticas, descrédito e negativismo.
Não é só 'café da manhã!'
É Café da Manhã, Louvor e Palavra!
"Não vai dar certo! (Torcida inquieta aos brados). Não vai dar certo!"
Nas madrugadas, quando garrafas são atiradas acompanhadas de xingamentos sem conta e gritos desafinados de sonhos desatinados, pensamos e sentimos desconforto. Até que ponto pode chegar a hostilidade do ser humano? Até ao ponto máximo, onde o valor de uma vida é igual a nada. Escolher a guerra ao invés de paz. A indiferença ao invés de compaixão. A exclusão ao invés da acolhida. O ar condicionado do egoísmo em detrimento do derreter de almas no inferno de suas muitas dores. Tudo na porta. Sofrimento pronta entrega! É só aumentar o som para calar os fritos de dor.
Mas também pensamos em o quanto o ser humano pode ser afável e carinhoso. Envolver-se.
Doar-se. Estar pronto a praticar o bem sem olhar a quem. Tal qual o inspirado filme: 'Corrente do Bem', há pessoas aguardando um convite param serem protagonistas e não mero figurantes do filme da vida. Fazendo a diferença para pessoas reais em tempo real. Não faltaram incentivadores e abençoadores do projeto. Pessoas comprometidas com tempo para orar e jejuar. Para sair no evangelismo-convite. Doar desde o café e o açúcar ao pão francês e a manteiga. Do leite e o chocolate até bolos de caçarola e de cenoura.
A gratidão estampada no rosto ao receber o convite em sulfite recortado com tesoura sem ponta, já valeu a pena. Sorriso de surpresa valendo como 'sim' em retribuição ao convite. "Na igreja não vou não! Ninguém aceita a gente lá não!" Mas Jesus te aceita! Ele disse: 'vem filho amado como esta'. Olhos marejados, nossos e dos convidados. Continuamos dizendo que Jesus olha o nosso coração e não o nosso exterior.
"No café da manhã vou sim e levo mais comigo! Pedimos uma igreja e Deus mandou um café da manhã com louvor, agora temos que ir senão fica feio."
Domingo de manhã. Trinta e um de Maio de dois mil e dez. O primeiro a chegar por volta das sete e meia, foi um majestoso pudim de leite condensado, com calda e tudo. Doação da irmã de uma denominação cristã-oriental. Agradecemos e partimos para a divisão da guloseima. Fato peculiar aconteceu que merece ser registrado: vinte e quatro copinhos em vinte e quatro partes iguais do pudim todos com calda! Contados e recontados. A certeza reconfortante, sabemos contar!
Saímos com o carro popular em busca das doações previamente contatadas. Na primeira padaria, o dono estava certo de que seria abençoado. Não parava mais de mandar embrulhar bolos e pães doces sem conta. Pronto, encheu o porta-malas! Sobrando pouquíssimo espaço, fomos à segunda padaria. Banco traseiro lotado. Duzentos pães estalando. Abençoados sejam os padeiros e donos de padaria! Oramos ali mesmo agradecendo e voltamos para casa, digo, garagem.
Mesa com descartáveis e guardanapos. Outra com garrafas de café, leite e sucos. Uma terceira com pães, bolos e demais guloseimas compunham o visual de encher os olhos naquela garagem tão especial quanto imprescindível para a realização deste que seria o primeiro café na garagem com Deus.
A primeira pessoa a chegar, de maneira muito discreta, com calça jeans e sem grandes produções de acessórios ou maquilagem peculiar, tomou seu lugar e ficou observando tudo desde a finalização da arrumação até a recepção dos convidados. "É ser humano", respondi a uma senhora que queria saber se era travesti. Ouvi um riso da pessoa sentada atrás de mim, como que aprovando minha resposta.
Bíblia ajeitada sobre a bolsa na cadeira. Ainda que não viesse mais ninguém, o café com Deus já teria seu valor por esta vida. Mas Deus queria nos surpreender. E surpreendeu!
Tudo pronto. Pessoas que trabalharam, oraram e continuavam intercedendo, aguardavam. Oferecemos então o pequeno banquete à primeira pessoa que havia chego. Resposta: "estou em consagração". Sem graça e sem palavras, concordamos. Interrompemos o grupo de louvor em seu entusiasmo e oramos.
Exatamente vinte e quatro convidados no total. Quando perguntávamos o nome de cada um para registrarmos em nosso caderno e orarmos, ouvíamos um 'Deus me conhece, Ele sabe o meu nome!' Mas podem me chamar de Daiane. Suelen. Jessica. Angel. Maria Paula. Paola. Michele. Jenifer...
O primeiro convidado no entanto, respondeu com toda a sinceridade de seu coração: 'chegará o dia em que direi meu nome verdadeiro e de registro. Por enquanto, podem me chamar de Renata.
O louvor enchia o pequeno lugar:
"Quero ser como criança
Te amar pelo que és .
Voltar a inocência ,
E acreditar em Ti...
Não posso viver longe do teu amor , Senhor ...
Abraça-me .
Abraça-me com Teus braços de amor ."
...E Deus abraçou cada vida naquela garagem na Avenida Industrial.
Mesa farta. Louvores. Palavra.
O choro inundou o lugar desbancando o preconceito.
Abraços foram incluídos como prática de vida e não teoria de vidas amareladas de doutrinas.
Quinze vidas aceitaram Jesus na hora do apelo.
Sim! Jesus estava presente na Avenida Industrial. Aleluia!
Maria Grizante.
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